Quando e como eu descobri que era portador da Síndrome de Parkinson




sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Quando e como eu descobri que era portador da Síndrome de Parkinson


Há quinze anos eu sentia muitas dores nos joelhos. Cheguei a consultar com mais de dez médicos nas diversas especialidades e nada de fato foi diagnosticado. Somente com um renomado reumatologista de Goiânia, eu permaneci em tratamento por longos treze anos, consultando-o e nada de objetivo foi relatado.
Por várias vezes cheguei a retirar 160 ml de líquido de cada joelho. Foi daí que entendi o que era “tirar água do joelho”. Quando estamos bebendo cerveja é normal ir ao banheiro por várias vezes e a urina é de uma cor amarelada. Retirar literalmente “água do joelho”, um líquido amarelado, era um fato con tumaz na minha vida ao longo dos anos.
Cheguei a consultar com médicos do SARAH KUBITCHEK em Brasília, uma das mais respeitadas entidades de saúde do Brasil e certamente do mundo. Um estudo minucioso foi realizado por uma junta médica do citado hospital e mais uma vez o diagnóstico foi impreciso.
Sempre fui um atleta amador, participei de maratonas, futebol, tênis, boliche e outras atividades congêneres, chegando a participar de torneios locais.
Quero demonstrar com isto, que jamais fui uma pessoa sedentária, muito pelo contrário, sempre fui uma criança ativa, um adolescente pujante e um adulto participativo nas atividades físicas.
É verdade que eu trabalhava sob um stress absoluto. Fui bancário por mais de vinte anos, sempre na condição de liderança, chegando a exercer a função de diretor numa instituição financeira na grande São Paulo.
Para se ter uma idéia, eu cheguei a participar de vários eventos mundiais no campo econômico, principalmente a partir de 1973.
Participei do primeiro choque do petróleo de 1973, quando os preços da commodities subiram demasiadamente, afetando os países em desenvolvimento e dependentes do produto. O Brasil foi seriamente afetado com a alta do combustível, pois estávamos em pleno crescimento econômico da era militar.
O endividamento em dólar do país, fez dos tomadores de crédito externo e até interno sofrerem abalos “sísmicos” em suas atividades, e evidentemente os bancos emprestadores e neste front estava eu.
Alguém já viu um banqueiro perder dinheiro? Quem se lembra do seriado do HULK? Era na mesma criatura que um banqueiro se transformava.
E entre “o rochedo e o mar”, estava eu sempre presente, “o responsável por ter emprestado dinheiro aos clientes”. Não podíamos perder dinheiro, e vai lá o tal stress.
Os anos se passaram, o país crescendo sob um endividamento sem fim, monitorado pelo FMI - Fundo Monetário Internacional e torturado pelo G-4, ou seja, os países credores mais ricos do mundo. Haja stress!
Em 1978, segundo choque do petróleo. Guerra entre Iraque e Irã. Mais uma vez o preço do petróleo vai às alturas. Mais crise mundial e evidentemente o nosso país sofrendo com os ajustes da moeda. Maxidesvalorização da moeda nacional e com isto repasse deste custo para os tomadores de empréstimos em dólar. Quebradeiras, choradeiras, desesperos sem fim da comunidade empresarial, estatais e financeiras nacionais. E mais uma vez, estávamos lá tentado receber de um rescaldo. Tome stress!
Com Funaro no Ministério da Fazenda, temos o primeiro “pacote” econômico no país dos militares. E tome stress.
Quem se lembra dos anos 80? Sarney Presidente. Inflação de 3% a.d. Quase 90% a.m. Pacotes e mais pacotes econômicos, tablitas de conversão, fiscais do Sarney fechando supermercados, governo laçando boi no pasto e daí por diante. Um fato que não pode passar despercebido: O País pede moratória internacional. Não tínhamos Reserva Internacional em caixa, ou seja, o país estava literalmente quebrado. E mais stress!
Quem se lembra dos anos 90? Collor no poder. Poupança confiscada, suicídios em cascata, pacotes e mais pacotes econômicos. Plano Collor I, Plano Collor II, Plano Bresser . . .
Quem se lembra de 1992? Impeachement do Collor! Os caras pintadas na rua. E mais Stress.
Assume a Presidência do País, quem? Itamar Franco. O fusca volta novamente a ser fabricado no país por ordem do Senhor Presidente.
Chega 1994. Fernando Henrique Cardoso é Ministro da Fazenda do período Itamar. Inicia-se o Plano Real.
Julho de 1994 implanta-se o Plano Real e pela primeira vez em uma geração, a inflação é contida.
Por incrível que pareça, a estabilidade da moeda no País, leva os bancos a bancarrota. Por quê?
Porque eles não sabiam emprestar dinheiro aos seus clientes, haja vista, os calotes que levaram de tantos planos econômicos, inflação exacerbada e empresas endividadas.
Os bancos sobreviviam dos floating, ou seja, da ciranda da inflação e dos depósitos bancários de toda espécie, mas principalmente de contas correntes de seus clientes.
A inflação alimentava o sistema financeiro brasileiro. O sistema não sabia se portar no ambiente de inflação baixa e estabilizada. Ai começou a quebradeira do sistema financeiro no país. Tome stress!
O Banco Central inventa o PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional. Dinheiro público aos montões para sanear os bancos em dificuldades, tentado evitar uma contaminação geral no sistema financeiro brasileiro.
As crises econômicas sistêmicas no Brasil e no resto do mundo persistia. Crise no México, na Ásia, na Rússia. A globalização, a teia de interesse do capital neoliberal selvagem, a volatilidade da moeda no mundo sem fronteiras. As empresas multinacionais e transnacionais se instalavam nos países onde eram oferecidos polpudos incentivos fiscais. Era como um espetáculo circense, instalava e desinstalava suas lonas de acordo com a bilheteria. Não havia nenhum senso de satisfação que não fosse o lucro exacerbado.
Foi neste berço que eu vivi diretamente. Foi bom? Depende do ângulo de visão. Ganhei dinheiro, ganhei! Prestigio, autoconfiança, conhecimento e relacionamento.
Mas também conquistei desgastes familiares, poucas amizades sinceras, relacionamentos conjugais prejudicados. A racionalidade era altamente superior a emoção. Alías, eu tinha emoção? Muitos me chamavam de homem de pedra, sem coração, vendido, um psicopata a serviço do sistema financeiro. Sacrifiquei a minha família. A minha primeira mulher morreu de câncer, ainda muito nova. E assim vai transcorrendo a minha vida...

2 comentários:

  1. Este foi meu pai. O que posso dizer é que realmente sacrificou a familia....Um homem materialista, frio, distante, não tinha muito tempo para os filhos e só sentia prazer no que dava lucro. Filhos e esposa não davam lucro, davam despesas. Como presente pelo estilo de vida veio o Parkinson, o "amigo" mais próximo que ele conquistou. Mas com tudo isso pude confirmar aquele velho ditado:"Deus escreve certo por linhas tortas." Junto com o sofrimento vem o aprendizado. Meu pai aprendeu muito, mudou completamente.
    Hoje me orgulho do pai que ganhei. Maduro, humano, sensível, carinhoso. Meu amor e admiração crescem a cada dia.....

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  2. De Américo

    Querido Amigo,

    Permita-me deixar registrado algumas palavras em nome de nossa profunda amizade. Durante muitos anos vivenciamos as mesmas experiências profissionais e aprendemos a nos respeitar. Durante todos os anos que juntos batalhamos, percebemos que nossas atitudes e valores frente ao comportamento profissional se assemelhavam. Imbuidos do dever do trabalho nunca poupamos esforços para que o mesmo fosse cumprido na íntegra à custa de inúmeros sacrificios pessoais e familiares. O cultivo de valores que sempre defendemos da integridade, honestidade, lisura e lealdade nunca foram quebrados. Dessa convivência nasceu uma amizade inquebrantável e uma afinidade de irmãos que se amam e que, a despeito da distância física, perdura até hoje, transcorridos quase 40 anos. Alunos que somos matriculados na escola deste planeta chamado Terra vivenciamos as lições que nos chegaram a todos os momentos e então, dispostos ao trabalho aprendemos a viver e a conviver com nossos semelhantes. Parece estranho dizer que precisamos aprender a viver, mas é com erros e acertos que crescemos e amadurecemos. Deus nos coloca nos lugares certos, nos momentos certos e nos dá as condições certas para nosso desenvolvimento. Somos alunos matriculados nesta escola imensa chamada Terra e viajando pelo universo infinito enquanto nos burilamos afim de que mereçamos estar matriculados em séries mais avançadas e com ensinos mais elevados quando tivermos aprendido as lições que nos cabem nesta existência. Como alunos ainda matriculados na Jardim da Infância, Deus nos vê como crianças espirituais que necessitam de amparo e auxilio para caminharmos um dia com nossas próprias pernas e conquistarmos vôos mais altos. Que seria de nós se Deus não permitisse que, através do livre arbitrio, pudessemos gozar da liberdade de escolhas, de aprendizado, acertando e errando para construirmos nossa identidade. Lembre-se meu amigo que a cada dia Deus renova nossas esperanças e abre novas oportunidades e quando estamos maduros para percebê-lo veremos que como Pai amoroso e justo ele traçou os caminhos para que pudéssemos construir nossa própria felicidade. Assim como um novo dia amanhece, igualmente novas oportunidades surgem em nossas vidas, abrindo portas para novas experiências onde o saber adquirido nos tornará mais fortes e sábios e teremos finalmente aprendido a lição. Ama, serve e confia! Todos temos quem nos ame profundamente, lembre-se sempre disso!
    Um abraço do amigo de sempre
    Américo

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