Quando e como eu descobri que era portador da Síndrome de Parkinson




quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um parkinsoniano em Nova Iorque - Um breve relato.

Como disse no capitulo anterior, passamos o réveillon em Nova Iorque. Eu já estive em Nova Iorque em fevereiro de 1996 e,coincidentemente, ocorreu uma grande tempestade de neve. A temperatura chegou a -20°C.
Eu já conhecia a tal lama de neve. É realmente difícil de transitar lá, nestas condições.
São necessários os Trucks (caminhões) para retirar a neve do meio da rua, lançando-a ao lado do meio fio. E os lojistas também tentando desimpedir seus passeios, fazendo o mesmo com suas pás.
Imagine! É uma verdadeira lama de neve. Os espaços ficam diminutos para tantos pedestres e visitantes de todos os lugares do planeta. Os tombos acabam fazendo parte do espetáculo. Eu derrapei feio, por duas vezes, e uma queda espetacular. O piso vira uma pista de esqui. Presenciei umas 15 quedas na minha frente. Algumas dessas quedas ao ponto de ver pessoas serem carregadas e levadas imediatamente para um hospital. É sério.
Antes de partir eu pensei em pesquisar a relação fria versus Parkinson, mas acabei esquecendo.
Foi realmente na pratica, que descobri que faz diferença estar em lugares mais amenos.
Parkinson emborca e o Frio também.
Por mais que me encontre com a minha doença controlada, mudar abruptamente o hábito do cotidiano, não é nada fácil. Há realmente muito desconforto.
Tentei participar de todos os eventos agendados entre minha esposa e eu, porém alguns não puderam ser cumpridos. Paciência!
Tinha a sensação de que o principio ativo dos medicamentos vencia mais rapidamente, na temperatura baixa, concatenada com o stress. No Brasil eu poderia suportar até 5 horas entre uma dosagem e outra. Em Nova Iorque, o tempo entre a medicação não durava 3 horas.
No meu caso em especifico, a bradicinesia, os movimentos lentos, e uma sensação de pernas pesadas, eram os diferenciais. Mal conseguia girar o tronco, ou até, mesmo sair do lugar. Era uma verdadeira labuta entre a mente e os membros.
Jamais, em tempo algum, tive estes sinais da doença tão presente. Realmente me assustei!
Depois de cumprir quase toda a agenda em Nova Iorque, rumamos para Connectitcut, cidade de Dambury.
Não foi uma agenda feliz.
Passamos o réveillon, na casa de parentes da minha esposa.
Permaneci a maior parte do tempo recluso, afastado dos bate-papos. Geralmente procurava um lugar escuro, uma cadeira confortável e ali ficava, por horas, estático, pois a coluna doía. Quando achava uma posição estável, era um alívio.
Afirmo categoricamente: Foram os piores dias dos últimos 7 anos, então, desde a descoberta da doença.
Não deixei uma boa impressão para os familiares de minha esposa. Até ela não foi compreensiva comigo, tamanho foi o meu desconforto.
Tanto os médicos que me cercam, quanto os familiares ou pessoas próximas, sempre afirmam: "Você não tem Parkinson. Se você não divulgasse, ninguém perceberia".
Chegando ao Brasil, senti as consequências da falta dos exercícios fisícos. Estava travado.
Chamei imediatamente meu personal trainner para me desemborcar. Ele disse que nunca me viu tão enferrujado.
Dias depois, já me encontrava como antes. Quase normal.
Evidentemente, fui ao meu médico, que continuamente classificou a doença como de nível 2A das escalas, de Hoehn e Yahr.
O que me chamou atenção nesta viagem, com relação à realizada em março de 2010 para a Turquia, foi realmente a intensidade do frio.
O que o parkinsoniano tem que fazer é planejar cuidadosamente suas viagens e tentar evitar aquelas que não oferecem nenhum prazer, senão será um desafio a ser vencido a qualquer custo.
Pense! Agora é hora de desfrutar dos prazeres da vida. Rali é para os aficionados. Se você é um deles, medite e meça as consequências do prazer.
Acredito que não necessitamos sofrer para realizar nossos sonhos.
O ano tem 365 dias, 12 meses, separados por quatro estações. Procure a estação que melhor convir e realize seus sonhos, sem nenhum sofrimento.
Certamente haverá sempre um impasse entre os viajantes, mas o bom senso deve imperar, para a felicidade de todos.
Boa viagem!!!!



Um comentário:

  1. Pôxa pai! A viagem que era pra ser um sonho virou um verdadeiro pesadelo. Mas a vida é uma escola! Tenho certeza que de agora em diante todas as suas aventuras serão bem calculadas... Vamos absorver só o lado positivo disso tudo. Você percebeu o limite do seu corpo, ficará muito mais cautelozo daqui pra frente e o melhor de tudo: através do seu blog e de sua experiência, certamente está ajudando muita gente que possui a mesma doença a evitar sofrimentos desnecessários!
    Pense nisso...Seu blog é na verdade um projeto social!
    Como sempre Te amo.
    Bjos

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