Há tempos, quero falar sobre este
assunto. E, neste momento, consegui reunir forças para tocar na “ferida”, que certamente
causará discórdia nesta narrativa.
O fato é que não
dá para tapar o sol com a peneira, tentando esconder a verdade.
Tenho recebido
muitos comentários no meu blog sobre o abandono do doente de Parkinson.
Histórias e mais
historias gritantes das quais sofre o doente, de uma maneira geral, são de
conhecimento público.
Desde a
antiguidade, o doente portador de necessidades especiais não é bem vindo ao
mundo e acaba sendo um estorvo para seus familiares.
A história conta
que, na Grécia antiga, os Espartanos jogavam ladeira abaixo todos aqueles que
nasciam portadores de quaisquer anomalias. “Quando uma criança nascia, os pais
apresentavam-na a funcionários do Estado que avaliavam se a “robustez” do
recém-nascido valeria o esforço que sua educação exigiria. Se não valesse, o
bebê seria jogado do alto do monte Taigelo, localidade onde eram destinados
todos os recém-nascidos com alguma deficiência que agredisse a estética quase
que perfeita dos espartanos.” (...) Eram povos guerreiros e não podiam contar
nas suas fileiras com portadores de necessidades especiais.
Os indígenas também
levavam seus velhos e doentes para morrerem num cemitério, eis que guerreiros e
caçadores não podiam perder tempo cuidando de pessoas deficientes.
A história
recente relata a Alemanha de Hitler, denominada de nazismo, que deixou um ícone
negro que jamais será esquecido, o Holocausto, que significa cremação de corpos
e tem origens remotas em sacrifícios e rituais religiosos da antiguidade. Somente
no século XIX, é que a palavra passou a designar grandes catástrofes e massacres.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto significou o extermínio de milhões
de pessoas indesejadas pelo então regime de Adolf Hitler.
E assim também aconteceu
com o fascismo italiano e o franquismo espanhol. Os historiadores admitem que, no
arianismo de Adolf Hitler, a maior parte dos perseguidos foi submetida à
Solução Final, enquanto certos seres humanos foram usados em experiências médicas
ou militares.
Esta pequena
abertura da história já dá uma certa dimensão quanto à delicadeza do assunto em
pauta, que não me furtarei a comentar por mais duro que seja.
Na minha pré-adolescência,
havia na minha rua um asilo denominado São Vicente de Paula. Eu convivia com os
velhinhos e os doentes que lá eram levados pelos seus familiares, que os
enganavam dizendo que era um local onde a sociabilidade, alimentação e cuidados
médicos se convergiam para um final de vida saudável. Eu sempre os perguntava:
por que eles estavam ali e não com os seus familiares?
A maioria dizia
que foi abandonada pelos filhos para ali morrer. Seus familiares lhes falavam que
ali se tratava de um local adorável, aprazível e que diariamente os visitariam.
Nos primeiros dias era verdade, porém estas visitas se espaçavam, até que
muitos deles morriam a míngua e sozinhos. Os filhos simplesmente sumiam.
Diante desta
realidade, sugiro para os portadores de Parkinson, em especial, que façam todo
esforço possível para não dependerem de seus familiares. Tentem, mas tentem
mesmo evitar essa dependência. Certamente você não irá se arrepender.
Os familiares
entram em depressão, até mais que o doente.
Muitos ficam envergonhados ao verem seu pai ou marido se degradando e
evitam transitar com eles em público. Os que podem, contratam enfermeiras para
se livrar do abacaxi.
Tenho absoluta
certeza que muitos estão me achando cruel e enganado ao postar esta matéria, mas
evidentemente toda a regra tem exceção.
O fato é que no momento
que os cuidadores começam a perder sua identidade, seu/sua companheiro(a), seu
emprego e seu espaço conquistado não
hesitarão de pedir a Deus que o leve consigo para o seu reino, caso contrário o
abandonará ou o levará para um depósito de inválidos.
Prestar
solidariedade é bom até quando não há perda nenhuma de bem-estar. E poucos irão
se sobressair no trato dos seus doentes. Não se enganem, esta é a pura verdade.
Parkinsoniano,
trabalhe a mente, esforce-se, não se faça de vítima. Você pode, não desanime
nunca e tente não depender dos outros!
Há filhos,
esposas, maridos compreensivos que se sacrificam pelos seus entes queridos, mas
são raríssimas as exceções.
Numa reunião
objetivando abrir uma associação em Goiânia, uma senhora se levantou e deu seu
depoimento: “É necessário muita abdicação, muito amor, despojo, carinho e
perseverança para cuidar de meu marido nas condições em que se encontra.”
Afirmou ainda: “Meu lugar no céu está reservado, pois não consigo mais viver a
minha vida em detrimento da dele.”
Outro depoimento
dado foi de uma filha, que disse que sua mãe acabara de descobrir ser portadora
da doença e entrou em depressão profunda, contaminando toda a família. Ela não
sabia mais o que fazer. Relatou-nos que, anos atrás, sua mãe vivia ajudando um
portador de Parkinson abandonado pelos corredores de um edifício em que morava.
Acredita-se que aquela imagem vinha à sua mente e o medo de ser abandonada a
afligia, fazendo com que sua depressão se acentuasse. Ela deixou de se cuidar,
deixou de fazer as unhas e parou com os cuidados pessoais básicos.
Neste caso em
especial, com um prognóstico recente, a família estava reunida a procura de
ajuda externa para auxiliá-los.
Evidentemente,
se seu caso já está num nível avançado, não há muito o que fazer. Entretanto, para
aqueles que acabaram de receber o prognóstico, ou o avanço da doença está
lento, recomendo a não pedir ajuda, exceto em casos extremos.
Eu tenho caso na
família, no qual presenciei quando era adolescente. Todas as férias passava na
roça, nome que se dá à fazenda de subsistência, onde morava uma tia
paraplégica. Lembro-me que a família era composta de três homens e uma mulher.
Tereza, nome
fictício, cuidava dela desde criança, mas a forma maldosa nos cuidados diários
era estarrecedora. A falta de paciência com os procedimentos básicos faziam minha
tia sofrer demasiadamente. Ela choramingava o dia todo. Era uma pessoa amarga,
de poucas conversas, mas quando eu sentava ao seu lado e puxava assunto, seus
olhos brilhavam! Morreu ainda muito jovem. Não podia ser diferente. Aliás,
torciam para que a moribunda morresse logo.
Não sei se foi
castigo, mas tão logo minha tia morreu, Teresa se casou e seu marido a matou.
Parkinsoniano, invista
em você. Use todas as forças que puder para resolver tudo sozinho. Forçar os
neurônios a trabalhar em seu favor vai causar uma melhora considerável na sua
autoestima e o tornará mais seguro de si.
Veja o
depoimento de um blog que sigo escrito por um companheiro também parkinsoniano:
“Minha esposa, capaz de gestos carinhosos e atitudes duras, ambos necessários
ao ver um marido parkinsoniano querer se entregar ao marasmo, a mesmice, ela é
insistente incentivadora de todos os meus atos, uma distribuidora de
entusiasmo”.
Aproveito para
deixar um texto incentivador de Maria Tereza de Calcutá.
Inspire-se e
siga em frente!
“Enquanto
estiver vivo, sinta-se vivo.
Se sentir saudades do que fazia, volte a
fazê-lo.
Não viva de fotografias amareladas...
Continue, quando
todos esperam que desistas.
Não deixe que
enferruje o ferro que existe em você.
...faça com que
em vez de pena, tenham respeito por você.
Quando não
conseguir correr através dos anos, trote.
Quando não
conseguir trotar, caminhe.
Quando não
conseguir caminhar, use uma bengala.
Mas nunca se
detenha.”
Pai, sempre me entristeceu muito sua visão em relação aos seus familiares. Desde que eu era pequena te ouço dizer que filhos são egoístas, que quando você estiver velhinho vamos abandoná-lo em um asilo para vivermos nossas vidas em paz. Talvez essa seja a sua visão como filho mas certamente não é a de sua filha. Não posso falar pelos meus irmãos, mas esteja certo de que jamais, em nenhuma hipótese te abandonarei. Por isso deixo essa mensagem aqui no seu blog, com todos os leitores como testemunha dessa minha afirmação. Você é o meu professor de vida, luta, garra, superação. Com você aprendo todos os dias o quanto a vida é boa e pode ser ainda melhor se soubermos vivê-la e apreciá-la. Aprendi que nunca é tarde para nos tornarmos pessoas melhores e estender a mão para o nosso próximo.
ResponderExcluirNunca duvide do meu amor e da minha compaixão paizinho. Jamais te abandonarei... A vida me ensinou a estender a mão a qualquer irmão necessitado. Portanto se sou capaz de fazê-lo por um desconhecido, o que não faria por você, querido pai, que me deu a vida e me ensinou a ser o que sou hoje....Você é meu herói e a seu lado seguirei até os ultimos segundos de sua vida porque te amo profundamente.
Ronaldo,
ResponderExcluirSou produtora do Programa Paulo Beringhs, da TV Brasil Central, e estou muito impressionada com o seu blog e com a forma como lida com a doença. Gostaria de entrar em contato com você para agendarmos uma conversa. Estamos fazendo nesta semana um programa abordando o Mal de Parkinson e acho que você poderá nos ajudar bastante com a sua visão e com a forma que a repassa para as pessoas. Peço, encarecidamente, que entre em contato comigo o quanto antes! Temos uma certa urgência.
--
Juliana Lobo
(62) 8146-0807
jornalismo@pauloberinghs.com.br
Acabamos de acompanhar uma palestra do Vandré Sales, onde foi discutido a importância da "Caridade Intelectual". Fantástico. Parabéns pela contribuição.
ResponderExcluirMais uma vez, meu amigo, vc arrasou no texto!!!!
ResponderExcluirestou lhe devendo um telefonema, mas farei em breve, mto em breve!!!! abracos e continue com toda essa forca de vontade!! vc me da orgulho!!!! Larissa