Quando e como eu descobri que era portador da Síndrome de Parkinson




segunda-feira, 4 de abril de 2011

O dia a dia de um parkinsoniano

Já mencionei, por diversas vezes, que a doença de Parkinson é traiçoeira. Lentamente, ela tenta, de todas as maneiras, ocupar o lugar que deseja. É necessário muito equilíbrio mental para controlá-la.
Após a última viagem a Nova Iorque, venho sentindo um formigamento nos pés e nas mãos. Ficar muito tempo sentado, numa mesma posição, faz a sensação aumentar e fico me mexendo o tempo todo, procurando uma posição mais confortável.
Descobri que deitar sobre uma base dura e relaxar a musculatura, ameniza o desconforto.
Comprei uns tapetes de borracha, daqueles que bebes brincam. Coloridos e encaixáveis. Além de serem práticos para se exercitar, também servem para deitar e relaxar.
Concomitante com o tapete, eu me exercito com uma bola grande, daquelas usadas em academias de Pilates.
Repito e repetirei sempre. A doença de Parkinson emborca; e sempre que possível, você tem que fazer o contrário, desemborcar-se.
É muito comum ver um parkinsoniano andando com o tronco pendido para frente. Então o que fazer?
Use uma bola, deitando-se de costa sobre ela e deixando a planta dos pés no chão. Tente colocar as mãos no chão. Tente ficar nesta posição, pelo menos por uns 60 segundos. Repita umas três vezes. Abra as mãos e tente fazer um “L”. Com certeza você sentirá muito melhor.
Não se esqueça de se exercitar numa academia. Dê preferência às academias focadas na clientela que necessite de cuidados especiais. Não se acanhe com o termo, até porque quase toda a sociedade hoje em dia sofre de um mal qualquer. Assim sendo, ele é portador de cuidados especiais.
Cumprir a jornada diária, exercitar-se, alimentar-se na hora certa, tomar a medicação regularmente, dormir. Eu disse dormir! Não é nada fácil!
Deitar e não dormir piora em demasia a doença. Eu estou falando das minhas próprias experiências. Evidentemente, que as troco com meus médicos, personal trainner e psicoterapeutas, procurando saber os prós e contras delas.
Meu médico receitou um medicamento relaxante, Rivotril, antes de dormir. Foi simplesmente um "achado". Eu rolava muito na cama tentando achar posições e acabava não dormindo. Dormir é imprescindível para qualquer um, ainda mais para um parkinsoniano.
Aconteceu um fato lá em Nova Iorque, que fez despertar.
Fui num Mall e comprei duas vestimentas para dormir, daquelas cuecas de um tecido mole, leve e fresco.
Fui falar com a minha esposa da compra, e ela me disse: “Isto é roupa para quem não faz nada!”.
Não era meu caso, até porque tenho atividades demais. Aliás, é essencial estar ocupado; físico e mentalmente.
No início do diagnóstico da minha doença eu desacelerei as atividades e acabei ficando mal humorado além de uma sonolência excessiva.
Evidentemente que há um controle a ser dosado para um parkinsoniano estar plenamente ativo. A exacerbação do estresse pode desencadear uma série de efeitos colaterais.
A minha esposa está me chamando a atenção para uma série de compromissos assumidos, até por que, não foi o pacto firmado entre nós. A combinação de qualidade de vida com responsabilidades profissionais é algo muito importante, que deve ser obedecida.
Atualmente, dirijo meu carro normalmente, porém evito transitar nos momentos perto do vencimento da medicação. A prudência sempre fala mais alto, nestas situações.
Sempre gosto de lembrar que o diagnóstico da doença ocorreu em 2003, portanto há oito anos.
Continuo controlando-a, mas foi só descuidar dos exercícios físicos diários que me senti um pouco prejudicado. Realmente exercitar é preciso.
Meu alongamento antes dos exercícios é tido como o melhor da academia. Porque eu digo isto? A doença de Parkinson tende a atrofiar e encurtar a musculatura. E de suma importância uma série de alongamentos, sempre assistido por um Personal Trainner.
Enfim, sinto-me apto, em plena forma e gozando de boa saúde.
Tenho uma filha com 11 anos. Ela é uma motivação para eu viver com prazer.
Com relação aos meus filhos, eles só me dão alegrias e assim procuro com assiduidade trabalhar meu cérebro controlando a doença e postergar ao máximo sua progressão, pois acredito muito no avanço da tecnologia científica médica para cura definitiva do mal de Parkinson.
Contudo é importante salientar que percebo os traços da doença no meu dia a dia, geralmente associados às limitações e dificuldade de execução de algumas tarefas físicas, principalmente quando estou com a medicação vencida, noite mal dormida, stresse inesperado, ou algum contratempo noçivo. Veja algumas delas:

• Escovar os dentes
• Vestir roupas
• Abotoar botões
• Dar nó em gravatas
• Fazer barba
• Tomar banho, principalmente ensaboar-se.
• Levantar-se da cama, de uma cadeira.
• Girar o tronco
• Fazer xixi - Descontrole.
• Fazer sexo - Dificuldade na condução.
• Girar na cama
• Girar sentado
• Balançar os braços
• Andar com desenvoltura
• Arrastar os pés
• Passos curtos
• Escrever
• Digitar no computador
• Humor comprometido
• Sair de veículos muito baixos.

Traços com facilidade na execução na maior parte do tempo.


• Andar a passos largos
• Correr
• Movimentos rápidos
• Qualquer esporte que exija movimentos rápidos
• Subir e descer escadas
• Games diversos
• Dirigir com velocidade

Observo também que os melhores horários em que a medicação atua no organismo estão no período compreendido das 8h às 12h.
No meu entender, tudo se deve uma noite bem dormida e um corpo descansado, aliado ao desjejum.
Porém tenho constado que o final de período vespertino, que compreende o intervalo das 17h até o anoitecer, há um comprometimento corporal maior.

Conclusão
 
Procuro viver cada dia com o maior prazer possível. Trabalho, viajo a negócios, a passeio, exercito meu corpo e a mente.
Não deixo que a doença me dobre, por mais que ela tente.
Se eu falar que ela nunca me deixou em apuros, estarei mentindo, mas a minha obstinação, perseverança na condução da vida é grande.
Não deixo me abater facilmente, porém, procuro ajuda junto aos profissionais correlatos, controlando-a.
É assim o meu dia-a-dia.