Quando e como eu descobri que era portador da Síndrome de Parkinson




quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O que é a Doença de Parkinson?

Roche
A doença de Parkinson(DP) é uma enfermidade neurodegenerativa com grande prevalência na população idosa. Estima-se, em média, que existam de 100 a 150 casos para cada 100.000 pessoas.
O inicio da doença geralmente ocorre em torno dos 60 anos de idade, acometendo ambos os sexos, diferentes raças e classes sociais. Os casos de DP que se iniciam antes dos 40 anos são atualmente definidos como Parkinsonismo de início precoce, e aqueles que se iniciam antes dos 21 anos, como Parkinsonismo juvenil.
A etiologia da DP ainda é obscura, é reconhecida como DP idiopática, ou seja, sem uma causa ainda definida, contudo, acredita-se que existem fatores predisponentes genéticos, pois já se conhecem pelo menos onze tipos relacionados com diferentes genes (chamados de park 1,2 e assim por diante), particularmente nos casos de início precoce e no chamado parkinsonismo juvenil. Nessa circunstância, as diferentes mutações genéticas levariam à formação de proteinas anômalas que não seriam degradadas pelo sistema proteolítico celular e, dessa forma, acumular-se-iam ao nível dos neurônios, levando-os à degeneração progressiva e à morte neuronal. Além disso, outra ideia vigente é a de que os pacientes parkinsonianos poderiam ter uma deficiência de enzimas celulares, ditas "lixeiras", e essa deficiência seria relacionada também a fatores genéticos. A deficiência das enzimas ditas 'lixeiras', associada a fatores tóxicos ambientais (ainda não completamente definidos como, por exemplo, toxinas exógenas de diversos tipos) ou mesmo à presença de toxinas endógenas, originadas pelo próprio metabolismo celular neuronal ( o conhecido estresse oxidativo, com formação de radicais livres) poderia levar a um processo progressivo de degeneração neuronal, irreversível, com morte neuronal.
A DP cursa com uma perda progressiva de células de uma região específica dos sistema nervoso central conhecida como substância negra do mesencéfalo. O marcador anatomopatólogico é a presença dos corpos de inclusão citoplasmática conhecidos como corpo de lewy. Mais recemente definiu-se a presença de uma proteína anômala, associada aos corpos de Lewy, conhecida como sinucléina e, a partir desse conhecimento, passou-se a definir a DP como uma sinucléinopatia.
A degeneração dos neurônios da substância negra (da chamada parte compacta) resultará numa diminuição da produção de dopamina, que é um neurotransmissor essencial no controle dos movimentos corporais. Essa deficiência dopaminérgica irá provocar uma perda de ação da dopamina nos gânglios da base (estrutural localizadas na profundidade do cérebro e envolvidas na modulação dos movimentos), particularmente no corpo estriado, determinando uma disfunção do circuito dos gânglios da base e o aparecimento dos principais sinais e sintomas da DP.
O diagnóstico da DP é bsicamente clínico com a correta valorização de sinais, chamados de sinais cardinais da DP quais sejam a presença de lentidão dos movimentos (chamados de bradicinesia), a presença de rigidez muscular, de tremores (particularmente nas mãos), com o aspecto de contar dinheiro e a presença de dificuldades posturais (equilíbrio).
De uma forma geral, os exames complementares atualmente disponíveis, como a tomografia computadorizada, a ressônancia magnética e o SPECT ( tomografia por enissão de fóton único), não permitem a realização do diagnóstico de DP e servem apenas para avaliação de outros diagnósticos diferenciais. Desta forma, na atualidade, o diagnóstico da DP é realizado sempre pelo exame clínico neurológico, e não por exames complemetares.
Em centros de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos, existe o PET scan ( tomografia por emissão de pósitrons), que pode ser utilizada para a confirmação diagnóstica da DP, demonstrando cabalmente ao nível das estruturas cerebrais conhecidas como gânglios da base. No futuro, com o avanço da neuroimagem funcional, como a RM ( ressônancia magnética) funcional, novas alternativas de investigação para os pacientes com DP poderão permitir uma confirmação segura do diagnóstico clínico.
Um dos pontos de maior importância é o diagnóstico diferencial da DP com outras enfermidades como o tremor essencial (por vezes familiar), que é a causa mais comum de tremor de uma forma geral, bem como com outras doenças neurodegenerativas, conhecidas como Parkinsonismo-plus e parkinsonismo heredo-degenerativo, além do chamado parkinsonismo secundário ( decorrente de uso de medicamntos antidopaminérgicos como os antipsicóticos, a flunarizina e cinarizina, entre outros).
A evoluçaõ da DP é progressiva, desencadeada pela perda neuronal irreversível e incapacitante. A gravidade da DP pode ser avaliada por diferentes escalas como, por exemplo, a de Hoehn e Yahr, que apresenta 5 graus de gravidade. No estágio 1, a doença é unilateral (só em um lado do corpo); no estágio 2, existe envolvimento bilateral; no estágio 3, existe comprometimento do equilíbrio associado; no estágio 4, o paciente apresenta uma incapacidade grave, mas consegue deambular sem ajuda; no estágio 5, o paciente encontra-se em cadeira de rodas ou mesmo confinado ao leito. Na prática clínica neurólogica diaria, observam-se diferentes padrões de evolução clínica e muitos pacientes podem permanecer estáveis por longos períodos no mesmo estágio clínico.

Hélio A. Ghizoni Teive
Professor de Neurologia da Universidade Federal do Paraná
Coordenador do Setor de Distúrbios do Movimento do Hospital
de Clínicas da UFPR, Curitiba-Pr.

"Soluções Roche para o Parkinsoniano"

Observação;

Normalmente eu não escrevo matérias técnicas, até por que, na internet há milhares delas bastando o paciente pesquisar àquilo que mais o interessa.
O meu perfil de escrita para que eu possa comunicar com meus colegas parkinsonianos, é informar o meu comportamento frente a doença e como ela se interage comigo.
Cada um tem um Parkinson em particular, e tento passar os meus momentos no dia a dia, na esperança de ajudar a minorar a dor e a angustia tanto dos familiares, quanto do portador.
Porém, quando estava no consultório de meu médico, achei a matéria interessante e esclarecedora em alguns aspectos e que poderá servir de auxilio à alguém.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Um dia para ser esquecido em Nova Iorque – Um capítulo à parte.

Programamos-nos para passar o réveillon em Nova Iorque. Chegou o grande dia 25 de Dezembro. Chegamos lá na mesma hora que começava a nevar. Lindo para se ver, mas difícil de lidar com ela no dia-a-dia. Um amigo da cidade de Dambury, Connectitcut, disse que nos últimos 12 anos jamais caira tanta neve numa mesma noite.
Vamos ao que interessa, até porque, sobre a neve, a mídia divulga para o mundo todo, nos mínimos detalhes.
Minha esposa e eu, colocamos a indumentária para enfrentarmos o terror dos povos tropicais: o frio abaixo de zero. Depois de cumprirmos a jornada da manhã, resolvemos, como todo turista, subir o tal Empire State. 102 andares! Que martírio! Que suplício!
Aparentemente, todos os turistas presentes em Nova Iorque, resolveram subir a tal torre ao mesmo tempo.
E lá foi um parkinsoniano, metido a besta, para a guerra. Sinceramente, não sei se fui influenciado pela patroa ou se foi pura ingenuidade minha.
Enfim, compramos o ticket que dava direito a ver Nova Iorque de todos os ângulos.
Eu não sei onde começou o martírio. Eu e minha esposa numa fila enorme, que andava vagarosamente, mas andava.
Primeiro acontecimento. Eu me dirigi a um caixa e comprei o meu bilhete. A Vera vai para o outro e compra dois bilhetes. Três bilhetes na mão. Como desfazer de um deles? Enfim conseguimos.
Pegamos outra fila enorme e lenta e subimos até o 80° andar. Já dava para notar que a logística do empreendimento não suportava tamanho congestionamento. Elevadores pequenos e muita confusão.
Uma das piores coisas para um parkinsoniano é alimentar-se mal, fora de seu horário habitual, num país diferente. A medicação ficou toda descontrolada. O fuso horário, o ritmo para cumprir a jornada programada, que quase nunca é seguida. Enfim, eu naquela fila, com remédio vencido, comprometido pelo frio, vestimentas que limitavam meus movimentos, sem água, sem banheiro, ou seja, combalido.
O primeiro estágio da subida era mesmo o 86° andar. Porém do 80° ao 86° já foi um terror, pois o vento levantava-nos. Pensei que eu fosse uma “pipa”. Desisti. Não havia a menor condição climática, nem para permanecer ali e nem ao menos fotografar.
Tentarei ser mais direto neste trecho da subida, ou seja, do 86° ao 102°.
Para chegar neste trecho do passeio, já haviam decorridos aproximadamente duas horas e meia, porém a curiosidade de ver a grande Apple e satisfazer os desejos da minha esposa, forçavam-me a prosseguir.
Num espaço que mal cabiam 10 pessoas, havia 100. Um “empurra empurra”, falta de estrutura, tanto de contingente humano para auxiliar na organização, quanto na logística dos elevadores.
Este parkinsoniano, já combalido, permaneceu não menos que 45 minutos sem dar um passo sequer. Minhas pernas formigavam. Pensei! Vou desmaiar. Logo veio à minha cabeça! Sustente-se homem! Isto é um reality show! Se você sair vivo daqui, ganhará US$1.000.000,00. Tentei permanecer ali, espremido, sem mexer, até que avistei uma grade adiante, a alguns metros. Mas estes metros pareciam muito mais distantes. Consegui agarrá-la. Disse para mim mesmo: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Imaginei que da grade e mais alguns passos havia o elevador que nos levaria o topo. Lêdo engano!
Um funcionário bradava: “Walking down, walking down...”. Não era a frase que gostaria de ouvir. Ainda havia muito que avançar para alcançar o objetivo.
Depois de vencer mais uma etapa do Reality Show, abre-se um elevador pequeno, quase uma gaiola, que não cabia 10 pessoas. Daqueles elevadores que vemos em filmes, de puxar uma grade sanfonada e fechar com uma barra de ferro.
Chegamos. Decepção! O andar cercado por grossos vidros, embaçados e evidentemente, gente demais, para um espaço pequeno.
Moral da história. Não vi nada. Acho que a minha condição naquele momento era de vencido. Por mais que acreditei no “YES, I CAN”, há limite para esta doença.
Sinceramente? Fui longe demais, literalmente. Frio abaixo de zero, roupas demais limitando meus movimentos, medicação vencida, fuso horário diferente, espremido, pisoteado e limitado, sem água, sem bathroom.
Ah! Não se esqueça! Sou portador da doença de Parkinson.
Importante dizer: o percurso da peripécia durou, aproximadamente, quatro horas.
Acreditem! Acabei sendo um estorvo nesta empreitada.
Acabei descobrindo a força, pois nunca perguntei ao meu médico. O frio não combina com Parkinson.
Parkinson emborca, frio também.
Lembram-se do capitulo “Exercitar é preciso”? Pois bem. Fiquei aproximadamente 15 dias sem me exercitar corretamente, sem alongamentos, e mais, viajando encurralado nos desconfortáveis bancos dos aviões internacionais. Não há espaço para se mexer. Um parkinsoniano viajando nestas poltronas, mais parece um pássaro muito conhecido na nossa região. O urutal.Nome científico - Nyctibius Griseus.
Minha mensagem, até para o meu maior inimigo – Não suba na torre do Empire State nestas condições.